Como sair do vermelho financeiro

Como sair do vermelho financeiro

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Como sair do vermelho

O caso da empreiteira que saiu do vermelho

Antes de dar algumas dicas de como sair do vermelho financeiro, deixe-me contar um caso, dentre outros tantos clientes que auxiliei, no qual uma certa empresa, literalmente afundada em dívidas, conseguiu dar a volta por cima.

Numa certa tarde recebi uma ligação de um colega, empresário, que já havia atuado no setor bancário. Naquela ocasião, falou-me desta empresa, de grande porte, que atravessa uma crise financeira com os bancos. Precisava, então, de um advogado especializado em direito bancário, pois seus advogados não detinham conhecimentos mais aprofundados sobre endividamento com instituições financeiras.

Era um caso urgente; já não havia mais sequer dinheiro para pagar os funcionários.

Marcamos, portanto, uma reunião, logo cedo, para o dia seguinte. Antes disso, já pedi para separarem alguns documentos que me pareciam relevantes, para que eu pudesse compreender o gigantesco rombo nas suas contas.

Bom, toda diretoria presente, reunião iniciada. Em pouco tempo, passado quase uma hora de seu início, o diretor financeiro entra com um e-mail, impresso. Era uma informação de um gerente, avisando-o que as contas haviam sido bloqueadas por ordem do Bacen-jud. Faça ideia do clima desta reunião.

Após ouvi-los, atentamente, percebi que, de fato, o quadro era grave, mas não insolúvel. Apenas iria requerer, no primeiro momento, muito do meu tempo e de minha equipe de colegas advogados. A razão maior era o número de credores; grande parte bancos; e, para completar, nos mais diversos Estados da Federação. Vi, por isso, que não seria fácil.

Daí, fiz a pergunta que lhes pareceu duvidosa, mas percebi semblantes de alívio naquele momento: “quanto tempo vocês necessitam para, sem bloqueio de bens, sair do vermelho e pagarem as dívidas?” Responderam, dois anos. Topei o desafio.

Acertamos contrato de honorários; reuni meu pessoal, pedi documentos e a relação de todos os processos. Então, partimos para o ataque. Na realidade, não propriamente ataque, mas ficar na linha de frente, “esbarrando” as tentativas de constrições de bens, feitas judicialmente pelos credores.

A primeira medida que tomei, obviamente, foi tentar desbloquear essas contas, nas quais haviam o dinheiro para pagamento da folha dos empregados. Com algumas estratégias jurídicas, consegui o desbloqueio, dando em garantia alguns créditos a receber.

Nos embates jurídicos bancários, a estratégia dos bancos é única: sufocar financeiramente o devedor; de outro lado, a do advogado do devedor é a inversa: afastar essa possibilidade.

Se o credor bancário não tem sucesso nisso, e rápido, vêm as famosas propostas de acordo; bem abaixo do que é cobrado no processo judicial, frise-se. Agora, uma vez retomado um bem, bloqueadas contas, aí a coisa se complica; o acordo, claro, será desvantajoso para o devedor, se ainda existir essa possibilidade.

Verdade seja dita, de fato, em dois anos, ou um pouco mais, com essa forma de agir, aquela empresa voltou a operar com tranquilidade, chegando a se destacar novamente no mercado.

A propósito, não faltam pesquisas que confirme o cenário desafiador do endividamento bancário, reflexo da crise financeira que atravessamos.

As dicas para sair urgente do vermelho financeiro

  • não faça qualquer acordo, sem antes conversar com seu advogado especialista em direito bancário. Não raro você está sendo procurado para um acordo, justamente porque há alguma desvantagem para o banco;
  • não envie correspondências ao banco, sobremodo propondo acordo. Isso pode lhe prejudicar, em caso de embate judicial;
  • qualquer correspondência que chegue ao seu conhecimento, imediatamente mostre-a a seu advogado. Faça, ao menos, uma ligeira consultoria jurídica;
  • não se deixe tomar por sentimentos de piedade, amizade, “gratidão”, etc, quando o gerente lhe procurar para fazer acordo. Repito: sempre escute seu advogado de causas bancárias;
  • jamais faça a conhecida “operação mata-mata”; aquela destinada, tão-somente, a quitar a dívida bancária anterior. Esteja certo que você prejudicará o trabalho de seu advogado;
  • não se desespere se você não detiver todos os documentos relacionados às suas dívidas bancárias. Nós, advogados da área bancária, temos meios jurídicos de recuperá-los;
  • logo que chegar qualquer apontamento nos órgãos de restrições (serasa, spc, etc), passe a fazer pesquisa, semanalmente, se existe o ajuizamento da ação. Caso não saiba, seu advogado fará isso por você. Precaução total nesse momento;
  • informe ao seu advogado se você, no caso de empresa, opera com cartões de crédito. Os recebíveis poderão ser bloqueados e, certamente, será uma significativa derrota financeira;
  • salvo raras exceções, legalmente as empresas são impedidas de deixarem de contratar alguém, por conta da existência de dívidas em nome do pretendente ao cargo. Portanto, não faça acordo com o credor levando-se em conta esse aspecto;
  • não se sinta humilhado por estar devendo. Todos cometemos erros; um revés financeiro não pode ser motivo de gerar qualquer constrangimento. Ao contrário disso, de certa forma mostra que você é honesto, pois o dinheiro que tem origem lícita, é difícil de se ganhar, e de mantê-los;
  • LEMBRE-SE e GUARDE este conselho: não há milagre para sair “urgente” do vermelho. O fator tempo é ESSENCIAL nesse jogo financeiro. A cada um dia que você segue, um passo você deu para solução da sua crise financeira.

 

Alberto Bezerra

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About Alberto Bezerra

Alberto Bezerra é professor de Prática Forense Penal, Civil e Trabalhista. Advogado atuante desde 1990. Também leciona a disciplina de Direito Bancário. Pós-graduado em Direito Empresarial pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo(PUC/SP). Articulista, palestrante e autor de diversas obras na área do direito, incluindo Prática Forense Bancária, Prática da petição inicial cível (com petições cíveis no novo CPC em PDF), Prática da petição inicial: família, Teses de Defesa na Prática Forense Penal e A Teoria na Prática: Responsabilidade Civil. Fundador do site Peticoes Online.

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